Na história fomos queimadas numa greve dentro de uma fábrica e milhares foram queimadas como bruxas. Seguimos sendo perseguidas. Nós mulheres vivemos em estado de medo. E esse medo é da dominância masculina e da repressão do sistema, esse medo tem motivações políticas. Não é seguro uma mulher erguer a voz e por isso não nos expomos. Também não nos expomos porque não temos líderes e não queremos hierarquias. Não estamos aqui para comemorar, estamos aqui para recordar e para lutar. Temos rebeldias nos nossos cotidianos, enfrentando e contestando a autoridade. Mas estamos aqui em nome da Autonomia Feminista. É essa a forma de participação política e luta organizada que acreditamos.
Nós mulheres temos que ser o centro de nossas lutas. Não podemos seguir fazendo papel do sexo secundário nos partidos, ideologias e filosofias políticas, nos sindicatos e organizações, as donas de casa, cuidadoras do bem-estar destes espaços. Gênero não é um complemento. Gênero é uma questão crucial, e mais: uma questão radical. Nós não nascemos para ser complementares dos homens. Completam 100 anos do 8 de março, mas nossa luta vem há mais tempo. Muitas mulheres resistiram e foram mortas para que estivessemos aqui, seus desejos eram de emancipação de todas mulheres, e de que se acabasse a subordinação da mulher. Mas o movimento de mulheres vem reproduzindo seu papel tradicional esperado pela sociedade sexista, que as explora como mães e mulheres. Devemos honras às companheiras que nos deram uma história e um futuro, não podemos aceitar o papel subordinado, agora aos novos patrões e patriarcas acatando as ordens autoritárias dos partidos, organizações centralizadas e bandeiras políticas mentirosas que nos apagam e menosprezam.
Não seguiremos sendo bucha de canhão das revoluções que não nos contemplam. Se não posso dançar, não é minha Revolução. Nenhuma Revolução e nenhum sistema econômico mudou realmente as coisas para mulheres, embora tivessemos trabalhado em todos movimentos de libertação que surgiram. Sem nós, o sistema pára. Trabalhamos nas terras dos senhores, somos o setor mais pobre e explorado da sociedade, realizamos dupla jornada trabalhando nas casas e chefiando famílias. Somos a mão-de-obra mais barata do sistema e a mais empregada em todos setores. Nosso trabalho é invisível e não-reconhecido quando criamos nossos filhos para a nação fascista que nos obriga à maternidade. Precisamos começar a fazer algo por nós mesmas. E é a nossa luta como mulheres e o Feminismo que traz os elementos pra uma verdadeira e ampla revolução social. Um movimento de mulheres Feminista, Autônomo, Libertário, Revolucionário, Combativo e Radical nas propostas e mudanças. Queremos a extinção da feminilidade, do sistema de gêneros, do Patriarcado-Capitalismo, dos Governos e do Estado.
As mudanças que almejamos não serão dadas pelo Estado, nem por nossos Patrões, nem por nossos maridos nem pelos comitês centrais dos partidos que nos exploram e às nossas esperanças tal qual os capitalistas. Porque todos estes são frutos do Patrtiarcado, ou Dominação Masculina, que só consegue conceber modelos binários de dominante/dominado, senhores e escravos, patrões e empregados, sádicos e masoquistas, destruindo qualquer referência a uma possibilidade de relações horizontais, que é uma busca politica feminista em seu apelo à igualdade. Somente uma verdadeira e ampla Revolução Social trará um mundo diferente deste, do sistema do Capital e de Classes, do Imperialismo e Militarismo. Essa revolução não vai ser construída por nossos governantes, mas pela rebelião dos povos. Somos desobedientes, não serão as leis que aprisionam nem as políticas desse mesmo Estado que massacra pobres e negr@s, mata mulheres negando assistência a saúde e aborto seguro, que se silencia e é cúmplice perante o feminicídio e o tráfico de mulheres em prostituição que trarão a segurança e a liberdade que mulheres esperam há tantos anos.
Pelo fim do sistema do Capital – Patriarcado, e suas variantes Racistas, Classistas, Especistas, Lesbofóbicas e seu fascismo original.
Pela Autonomia Feminista. Nem Deus, nem Pátria, Nem Patrão, Nem Partido e Nem Marido. Feminismo já!"
- Coletivo de Ação Feminista, 6 de março de 2010, em ato pelos 100 anos do 8 de março, Curitiba-PR