sábado, 28 de agosto de 2010

I Convocatória Riot Grrrl - SALVADOR

Apoio à iniciativa do coletivo/distro Na Lâmina da Faca, de Salvador. Por um cenário (contra)cultural feminista e autônomo! (:


Nós, do coletivo Na Lâmina da Faca, pedimos licença à todas para divulgar a I CONVOCATÓRIA RIOT GRRRL SALVADOR, que estará aberta entre os dias 20 de agosto à 20 de outubro de 2010.

Através do e-mail do coletivo — nalaminadafaca@gmail.com — as interessadas podem enviar suas sugestões, críticas e inclusive tomar a iniciativa de ajudar na construção de um festival autônomo de Contra-cultura produzida por mulheres, que acontecerá na cidade de Salvador, no próximo verão.

“Riot Grrrl” é um termo originário dos Estados Unidos, surgido na década de 90, e que diz respeito a um movimento sócio-musical conduzido por mulheres na cena punk norte-americana. O movimento acabou se propagando em outros países, que, assim como os EUA, possuíam (e ainda possuem) uma sociedade sexista que era/é reproduzida também na comunidade punk. Quando veio para a América Latina, o Riot Grrrl acrescentou outros elementos contra-hegemônicos que não estavam presentes nos Estados Unidos, como o Colonialismo.

Utilizamos o termo buscando dar uma identidade — autônoma, rebelde, feminista — a essa iniciativa, sem, no entanto, nos prendermos a ele. Em outras palavras, Riot Grrrl é a junção de diversão+política, e é isso que queremos resgatar.

Acesse nosso blog para conhecer mais sobre o coletivo: www.nalaminadafaca.wordpress.com.


Participe e nos ajude a divulgar!

domingo, 22 de agosto de 2010

[Informes do mês] II Seminário Paranaense de Mulheres Lésbicas e Bissexuais

II Seminário Paranaense de Mulheres Lésbicas e Bissexuais

Data: de 27/8/2010 a 29/8/2010
Local: Curitiba Paraná

Estão abertas as inscrições para o III Seminário Paranaense de Mulheres Lésbicas e Bissexuais.


Com a proposta de manter um espaço de discussão específica sobre as relações de gênero e a sexualidade de mulheres lésbicas e bissexuais, a Artemis – Associação Paranaense de Lésbicas - ONG que tem a finalidade de promover a cidadania e a saúde plena de mulheres lésbicas e bissexuais - abre inscrições para o III SEPALE.

O Seminário que acontecerá em Curitiba – PR, terá início no dia 27 de agosto, e terminará no dia 29, dia da Parada da Diversidade na capital paranaense. Além dos debates tangentes à sexualidade, o evento possibilita, segundo a organização, um momento de reflexão e discussão sobre as políticas públicas para mulheres do Paraná. O encontro contará com as bolsas que incluem alimentação e hospedagem, sendo que as passagens serão de responsabilidade das participantes.

As interessadas em participar devem enviar e-mail para artemis.apl@gmail.com ou entrar em contato com a Angelita Lima pelo telefone (41) 9925 2951.As inscrições deverão ser feitas até dia 20 de agosto de 2010.

Fonte da Informação: Angelita Lima.

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PROGRAMAÇÃO

III SEMINÁRIO PARANAENSE DE LÉSBICAS E BISSEXUAIS
27/08/2010
14:00 hs Credenciamento Comissão Organizadora-ARTEMIS
18:30 hs Abertura Oficial
19:00 hs Palestra Magna (Saúde Integral das Mulheres Lésbicas e Bissexuais e Vulnerabilidade em DST HIV AIDS Irina Bachi – ABGLT
Dra Alaerte Leandro Martins – Rede de Mulheres Negras – PR
Moderadora: Angelita Lima
21:00 hs Encerramento

8/08/2010
08:30 hs
Resgate Histórico da Lesbianidade e da Aids entre Mulheres Irina Bachi – ABGLT
Moderadora: Kellyane Vasconcellos
09:30 hs Movimento de Lésbicas do PR Simone Valêncio - ARTEMIS
10:45 hs Genêro/Identidade/Estigma Prof. Andréia - Transgrupo Marcela Prado
Dr.Guilherme Almeida - UF
Moderadora – Eliane Moroni (Téia)
12:30 hs Almoço
14:00 hs Retificação do Nome como Direito da Adequação à Identidade Real do Sujeito Dra.Clayde Pace - UFPR
Moderadora - Daniell Choma
15:00 hs Prevenção em Hepatites Virais - Sexo Seguro entre lésbicas e bissexuais Renato Lopes – SESA/ Programa de Hepatites virais do PR
Bethy Ferraz -Sec. Mun. de Saúde de CTBA - Centro de Epidemiologia
16:30 hs Café
17:00 hs Oficina 1 - Violência e Vulnerabilidade
Oficina 2 – Juventude Lésbica e Prevenção em Saúde Heliane Hemetério - CANDACES
Michelly Ribeiro – RMN – PR

29/08/2010

08:30 hs Feminização da Aids
Redução de Danos (Drogas lícitas e ílicitas) Angela Martins - ARTEMIS
Carla Torres - RMN - PR
Moderadora: Kellyane Vasconcellos
10:30 hs Constistuição e entendimento LGBT: Heteronormatização ou Direito à Família Angelita Lima – ARTEMIS
Ana Maria Konrath
Moderadora: Debora Regina Rocha
12:00 hs Almoço
14:00 hs Filme e Debate: Sou Mulher, Sou Brasileira, Sou Lésbica Comentaristas:
Heliana Hemetério
Maria Victoria Gouvea
15:30 hs Ações Práticas na Consolidação de Agenda de Políticas Públicas Comissão Organizadora
17:00 hs Café
18:00 hs Encerramento Oficial

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Novo calendário de leituras!

Reuniões de Estudos do CAF

A partir de sábado, dia 14 de agosto, daremos início a um novo calendário de leituras. As reuniões de estudo acontecerão a cada 15 dias, pulando feriados e afins. Os textos encontram-se em nossa pasta (n° 241) no xerox da Reitoria (Rua Amintas de Barros, 270, próxima a reitoria UFPR), e assim que possível disporemos deles digitalizados.
Segue abaixo o calendário completo:




  • 14/08 - "A Tirania das Organizações sem Estrutura" - Jo Freeman
  • 28/08 - "Ambivalência sobre os conceitos de sexo e genero na produção de algumas teorias feministas" - A. Piscitelli
  • 11/09 - "Perspectivas feministas e o conceito de patriarcado na sociologia clássica e o pensamento socio-político brasileiro" - N. Aguiar
  • 25/09 - Gênero x Patriarcado - Heleieth Safiotti
  • 09/10 - 'O Feminismo na Era da Hegemonia Neoliberal' - N. Mongrovejo

As reuniões acontecem nas datas marcadas, às 16h na Reitoria da UFPR.
Recomenda-se participar de uma ou mais reuniões de estudo para integrar as reuniões de organização/estrutura. Estas acontecem igualmente a cada quinze dias, intercaladas com as reuniões de leitura. Ainda, quem tiver interesse em participar deverá estar de acordo com a carta de princípios do coletivo, que será devidamente entregue às interessadas em integrar o CAF.

Lembrando que o coletivo é autônomo e o grupo de estudos não possui qualquer vínculo acadêmico com a UFPR.

No mais, esperamos vê-las nas reuniões! Sejam bem-vindas,
qualquer dúvida, entrar em contato pelo e-mail: acaofeminista@gmail.com

Coletivo de Ação Feminista
Curitiba, agosto de 2010.

domingo, 20 de junho de 2010

CAFé-debate feminista 26 de junho


A proposta do evento CAFé promovido pelo Coletivo de Ação Feminista é de começar um espaço cultural ou contracultural feminista, assim como para a visibilidade e incentivo produção de mulheres e para o debate político, exposição de idéias e contestação dos modelos impostos de vida. Um espaço de criatividade, que estimule a produção independente e a formação de outros agrupamentos políticos, apoio a estilos de vida alternativos aos regimes repressivos, ao patriarcado e de enfrentamento ao capitalismo, contrários à lógica de mercado e ao autoritatismo político.

Dar a voz a nós mesmas e divulgar a desconstrução do gênero e das relações assimétricas é um dos passos a serem dados pelas iniciativas feministas. CAFé é o primeiro de muitos espaços a serem tomados politicamente, pois a idéia é de que surjam sempre novas idéias e atitudes e fortalecer o cenário cultural feminista e anti-patriarcal.

Nossas ações são abertas para atingir todxs que estão implicados na construção de outras possibilidades de vida, por isso a presença de todxs que devem aprender do feminismo: homens, mulheres, jovens, velhxs...e neste caso o privilegiamento da voz de garotas numa sociedade em que não temos vozes e queremos começar a falar e nos expressar, repudiar e construir alternativas, fazer visível as limitações e repressões que se tornaram rotinizadas.



DIA 26 DE JUNHO, SÁBADO às 14h

Onde: Inkustom Tattoo Estúdio - Trajano Reis, 335 - próximo ao Largo da Ordem.

Entrada: R$ 5,00.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Entrevista com Nomy Lamm

Há um tempo já, publicamos aqui no blog a tradução do texto It's a Big Fat Revolution escrito em 1995 pela de-quase-tudo-um pouco Nomy Lamm. No final do ano passado (2009) fizemos uma entrevista por e-mail com ela, para publicar na segunda edição do nosso zine impresso. Como não é todo mundo (ainda) que pode ter acesso a ele, colocamos aqui, na íntegra, as perguntas e respostas. Nomy é uma pessoa hiper atenciosa, admirável e foi muito legal manter este contato com ela. Segue a entrevista:

CAF: Antes de mais nada, muito obrigada por fazer esta entrevista com a gente. Queremos saber como e quando você acha que entrou em contato com o feminismo pela primeira vez e se sua música e sua arte acabaram sendo uma forma natural de juntar tanto suas ideias quanto seus sentimentos numa coisa só.
NOMY LAMM: A primeira coisa da qual me lembro é de falar sobre feminismo com um grupo de amigas quando eu era adolescente. Minhas amigas e eu fazíamos festas do pijama durante todo o ensino médio, por mais que seja algo que geralmente as garotas mais novas façam. Nós assistíamos a filmes, comíamos besteira, contávamos nossos segredos umas para as outras, falávamos sobre o que estávamos aprendendo e sobre o que estávamos pensando, sobre nossos corpos e sexo e amor e o mundo... quando o tema "feminismo" apareceu nós todas dissemos que não nos identificávamos com ele, eu acho que pensamos que isto significava que mulheres não deviam usar maquiagem e deveriam tentar ser poderosas executivas de sucesso. Por volta dos meus 16 anos eu estava numa banda só de meninas e quando eu tinha 17 eu me identifiquei como uma riot grrrl e passei a admitir a minha raiva. Eu sentia como se houvesse uma mágica que acontecesse entre meninas quando nós confiávamos umas nas outras, e eu me sentia protetora disso. Eu comecei a dedicar a minha vida a escrever e trocar zines com outras garotas, fazer música com elas, travestir-nos e outras formas de performance em espaços onde as garotas estavam no comando...

CAF: Você escreveu "It's a Big Fat Revolution" dizendo que muito do seu trabalho com o feminismo e a cena punk. Como você vê a conexão entre ambos?
NL: Na época em que escrevi este ensaio eu estava no meio de um movimento cultural de garotas na cena punk (riot grrrl). Havia uma massa crítica de meninas que estavam animadas em fazer as coisas, em serem ativas e o centro de nossos próprios mundos, e estávamos cansadas de estar no fundo de uma cena dominada por garotos. Nós concentramos o espírito rebelde do punk rock no feminismo, e as críticas radicais do feminismo no punk rock.

CAF: Geralmente o punk se constrói dentro de uma contra-cultura, sem sair muito de seu meio. Como você se sente tendo o seu trabalho reconhecido fora dessa cena (e agora sendo lido em outras línguas)?
NL: Fico feliz que meu trabalho, especialmente este ensaio ("It's a Big Fat Revolution") e os zines que eu escrevi ("I'm So Fucking Beautiful") tenha atingido a tantas pessoas. É muito legal que depois de tantos anos eu ainda ouça de pessoas que acabaram de se deparar com coisas que escrevi quando era uma adolescente e que tiraram algo disso. O trabalho de libertação gorda com o qual eu comecei a me envolver quando eu tinha 17 anos tem um alcance amplo, é aplicável ao punk mas também pra qualquer um que tenha aprendido a gordofobia de sua cultura. A própria "Guerra contra a obesidade" que vem acontecendo nos EUA está criando um ambiente onde nossos corpos não são consideradas como a "causa" da doença, eles estão sendo considerados como "a doença". Então eu fico feliz que a minha voz possa ainda fazer parte do combate a estas mensagens, aqui nos Estados Unidos e fora dele.


CAF: Também em seu texto você disse que há uma revolução acontecendo, mas nada que fosse aparente para a cultura mainstream ainda. Isso foi em 1995. Agora estamos em 2009... muita coisa mudou?
NL: Essa é realmente uma boa pergunta. Eu acho que muita coisa mudou de certa forma, há um movimento de libertação gorda muito maior que está enxergando as políticas da gordura dentro de um sistema de opressão mais amplo. Muitos dos ideais pelos quais eu estive lutando quando era adolescente acabaram se tornando parte da minha realidade diária de uma forma que eu não poderia ter adivinhado. É revolucionário para mim que eu possa viver num contexto queer, feminista, sexo-positivo, positivo em relação ao corpo, transgressor de gênero, politicamente radical e anti-racista em que estes são os valores pressupostos, e meu trabalho é sobre aprofundar em vez de lutar o tempo todo contra um inimigo visível. Por outro lado, a visão que eu tinha de uma transformação de todos os sistemas de autoridade e de opressão institucionalizada em uma realidade centrada em comunidade e amor ao corpo e à terra, bem, isso não aconteceu realmente. Digo, os Estados Unidos é uma merda politicamente e economicamente, tão interligado com esses velhos sistemas de poder que eu não tenho certeza se realmente temos a capacidade de mudar. Eu frequentemente me sinto derrotada. Minha namorada Melodie disse outro dia que ela acha que essa sensação de derrota está conectada com o processo de se livrar da identificação com o poder. Tipo quando eu era mais jovem e acreditava no sistema em que vivia porque eu acreditava que ele poderia ser transformado, e na medida em que eu envelheço, mais desiludida eu fico em aceitar que eu sou uma serva. Eu gostaria de ter essa crença confrontada, quero acreditar que podemos mudar o mundo, que nossos esforços não tem de ser mediados por um sistema de poder que quer cooptar nosso trabalho.

CAF: Você acha que essa gordofobia toda está relacionada apenas aos padrões de beleza/questão de "saúde"? O que você acha que se esconde por trás disso?
NL: Acho que os padrões de beleza e as questões de saúde meio que surgiram de uma tendência cultural focada em padronizar nossas vidas, alimentação, roupas, corpos (locais de trabalho, moradia, etc etc) ao longo dos últimos séculos com a Revolução Industrial. E eu acho que a pessoa gorda acaba se tornando um bode expiatório conveniente.

CAF: Houve alguma situação específica de opressão que você gostaria de compartilhar que a fez perceber que as coisas não estavam certas, ou foi como um bocado de experiências acumuladas?
NL: Eu fiz dieta por tanto tempo, desde os meus cinco anos de idade, e cresci num ambiente familiar com um pai bulímico, e experimentei traumas médicos e sexuais quando jovem, que a partir do momento em que tive espaço para falar a respeito disso tudo, as coisas simplesmente deram um clique dentro de mim. Foi um alívio e tanto poder ver um sistema que estava criando essas experiências em vez de achar que havia algo de errado comigo ou que eu merecia isso tudo.

CAF: Você disse que o fato de ter nascido com uma perna não influenciou tanto a sua imagem corporal tanto quanto ser gorda o fez. Você acredita que isso pode ter sido influenciado de certa forma por uma sociedade que tende a ter pena de pessoas com alguma deficiência física e satanizar/culpar as pessoas gordas?
NL: Eu acho que é uma boa possibilidade. Era assim que eu me sentia na época em que escrevi esse ensaio [It's a Big Fat Revolution], mas eu não lidei de fato com o meu trauma de ter perdido meu pé ou de usar uma prótese que teve um preço alto no meu corpo. Eu sabia que a minha deficiência não era minha culpa, enquanto que eu sempre era levada a crer que ser gorda era fruto da minha própria fraqueza. Quando eu me acertei com a minha gordura, minha sexualidade [queerness], meu gênero, eu tive que lidar com a experiência física de meu corpo que de várias maneiras havia sido moldado pela minha deficiência. Meu corpo foi problematizado no meu nascimento e meu pé foi amputado por motivos basicamente não-médicos, então eu acredito que esta tenha sido uma razão determinante para que a opressão que eu experimentei em relação ao meu corpo tenha me marcado tão profundamente.

CAF: Ainda sobre influência, você chegou a crescer em um ambiente religioso? Houve algum conflito entre você ser judia e lésbica, e como isso pode ter afetado sua música e visão política?
NL: Eu cresci numa congregação que não teve um rabino até que eu completasse treze anos, e que depois se afiliou como reconstrucionista, que é uma ramificação conhecida por ser mais progressiva socialmente. Eu acho que foi difícil pra mim ter que me assumir em Olympia onde cresci porque minha família e todas as mesmas pessoas que já me conheciam desde que eu era uma criança ainda tinham as suas atenções voltadas para mim, mas eu não recebi muitas mensagens religiosas homofóbicas por parte dessa comunidade. Eu investi muita energia para integrar minha sexualidade [queerness] e o judaísmo e deficiência física e feminismo etc, entendendo o que eu acreditava e como tudo pode se complementar. Ser judia teve um grande impacto na minha sensibilidade musical.

CAF: Você está envolvida em algum projeto musical ultimamente? E não musical?
NL: Nomy Lamm & THE WHOLE WIDE WORLD. É basicamente uma plataforma para colaborar com um monte de pessoas diferentes e fazer com que tudo tome parte de um projeto coeso. Tenho trabalhado com um pedal loop e apresentação de slides de fotos, usando música pré-gravada criada por mim junto de outrxs artistas, e cantando e fazendo looping ao vivo no palco. Eu só tenho gravações caseiras por ora, espero gravar um novo álbum no próximo ano ou algo assim. Eu também toquei algumas músicas recentemente com um projeto de banda chamado OBEAST, e foi muito legal. Além disso eu estou fazendo pós-graduação trabalhando num mestrado sobre escrita criativa, e eu acabei de escrever uma peça curta chamada "Embroiled" que será produzida na temporada pela Jump! (uma companhia de teatro que produz trabalhos que mostram representações autênticas de doenças mentais).

CAF: Por último mas não menos importante, há algo que você gostaria de adicionar/dizer/reclamar? :-)
NL: Minhas costas dóem bastante agora, e eu tenho que me vestir e ir ao dentista. Acho que é toda a reclamação que tenho para fazer no momento. Muito obrigada por me entrevistar, estou animada em fazer parte do zine! Um alô para as feministas brasileiras, é uma honra me envolver com vocês.

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Nomy Lamm ao vivo, @ the Big Gay Cabaret


terça-feira, 23 de março de 2010

Feminismo? Por que Feministas?

O Feminismo é um movimento social e uma ideologia política que geralmente é definido como a luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres, mas que na verdade se expande para incluir a igualdade entre todos seres humanos e o respeito a todas formas de vida. De fato, desde os 60, feministas vieram lutando para que mulheres fossem reconhecidas como, mais que mulheres, seres humanos assim como os homens e qualquer outro gênero, assim afirmando a sua dignidade humana e desmistificando as noções clássicas que ditam o que mulheres e homens são ou devem ser, e as supostas diferenças entre esses.

Embora o termo feminismo ou feminista seja recente, não significa que mulheres nunca tenham lutado, ao longo da história, pela sua liberdade e afirmação. A resistência de mulheres sempre existiu, talvez um dos mais antigos registros de uma resistência de mulheres tenha sido a caça às bruxas durante a Inquisição Medieval, onde muitas mulheres que saiam do que era esperado delas - subordinação, obediência, resignação - mulheres que ousavam ocupar áreas de atividade e trabalho não permitida à mulheres, eram denunciadas e mortas, queimadas publicamente como 'ameaças à ordem'. Mulheres que expressaram alguma rebeldia e insubmissão ao longo do tempo podem ser vistas como feministas. Mesmo assim, por maior que seja o medo de mulheres de contestar as injustiças que presenciem, sempre há um grau de incômodo em todas mulheres, que às vezes são expressos em depressões e ansiedades, ou em pequenos e invisíveis sabotagens - queimam a comida, atrasam o expediente, 'nunca vencem a casa' demonstrando não-adaptação aos modelos exigidos delas.

Mulheres no começo do século XX passado sentiam muita inquietação e descontentamento por não se verem em possibilidades de exercerem todos seus potenciais, pois apenas eram permitidas atuarem no campo doméstico e não participar da vida pública de sua sociedade. Mulheres de classes mais pobres eram, pelo contrário, sobre-exploradas, situação que permanece, e assim se organizaram em movimentos de reinvindicação de melhorias nas condições de trabalho.

De onde vem a subordinação da Mulher?

Aprimorando suas análises, as feministas vão dizer, então, que a base da opressão sobre mulheres é o chamado Patriarcado, regime da dominação masculina, estabelecido pelo direito paterno na fundação da família. Nesta, surgem as divisões de trabalho doméstico e social, divisão que é falsa pois o trabalho de casa (incluindo aí toda gerência da família e seu bem-estar, o cuidado e criação dos filhos, a satisfação dos membros) é um trabalho social indispensável para que o Capitalismo se garanta. O trabalho feminino, de fato, é o mais sobrecarregado de todos, invisível - por não ser admitido como trabalho e sim como algo obrigatório derivado de sua condição de 'mulher' e 'mãe' - e sem reconhecimento social, não remunerado. Portanto, trata-se de um trabalho escravo.

Esse mesmo regime econômico (economia como sendo a administração dos meios de vida) precisou criar as classes sexuais como as conhecemos, homem e mulher, onde o primeiro representa os atributos da atividade, força, liderança, poder e o segundo passividade, impotência, obediência e dependência. Assim sendo, a origem de todas categorias de opressão - senhor/servo, patrão/subordinado, opressor/oprimido - surgem da divisão primeira da humanidade entre homens e mulheres. Todo oprimido, nas análises feministas, é ‘feminilizado’. A feminilidade é uma construção cultural que nos molda nos sujeitos que devemos ser, assim aprendendo desde cedo como 'funcionar' no sistema para que esse continue também 'funcionando' adequadamente. Isso significa que todos oprimidos têm algo em comum também, e que Racismo, Homofobia, Especismo (exploração dos animais), Classismo são lutas feministas pois, quando atacam os direitos de um destes grupos, atacam aos nossos também e de nós todos. A nossa Libertação só existirá quando todos forem Livres.
Então, enquanto as análises críticas de todos movimentos sociais não incorporarem as noções feministas não poderemos almejar uma profunda e verdadeira transformação social, já que o regime patriarcal é o mais antigo de todos e se ele permanece, mantêm reproduzindo os modelos e opressões que originam as sociedades Capitalistas, Imperialistas, colonizadas e militarizadas.

Feminismo é o contrário de Machismo?

Feminismo não significa extinção de homens, nem opressão à homens (geralmente isso é usado como uma forma de censura, perseguição e divulgação de um anti-feminismo e para que outras mulheres tenham medo de assumir a luta). Feminismo tampouco é a afirmação de um 'poder feminino', já que tal poder não existe numa sociedade de dominância masculina, e constitui uma defesa que geralmente significa 'poder de barganhar algo através da prostituição', e também nem seria estratégia reivindicar ser o feminino construído pelos homens. Mesmo que uma mulher tenha algum 'poder', com razoável independência financeira e inserção no mercado capitalista, o fato de estar no contrato de trabalho representa que não possui poder real, e principalmente: coletivamente não possuímos poder. A Liberdade que o feminismo reinvindica não é a Liberdade de Mercado nem a liberdade de ser um nicho de mercado (consumo de produtos de beleza, etc.) nem a Liberdade de entrar no contrato necessariamente desigual do trabalho assalariado. Feminismo luta pelo poder coletivo de mulheres, nas suas vidas para fazerem decisões e na vida pública para sua verdadeira participação nas decisões sociais, assim como verdadeiras condições de trabalho e de realização e desenvolvimento pessoal. Aliado a outras lutas, o feminismo luta pelo Poder Popular, para que o Governo seja o governo social do Povo.

O ‘Poder’ foi disputado como uma estratégia feminista no começo de suas movimentações, e hoje ainda permanecem pautas por maior inclusão nos cargos governamentais, nos partidos e outros. Embora tenha sido uma estratégia que trouxe alguns ganhos, vem demonstrando dispersar movimento em sua atuação realmente revolucionária: com as classes sociais populares, em movimentos de moradia, terra, indígena, comunitários e de bairro. Nossa libertação e a revolução não será dada pelos que estão no Poder. O Estado e o Governo surgem junto com Patriarcado e estruturalmente (para o fim que foram concebidos) existem para apoiar os grupos que estão no Poder, estes que comandam o tráfico internacional de mulheres, que invadem países, promovem guerras, destróem meio ambiente, poluem águas e dominam vastos territórios de terras e envenenam o solo, invadem nossa vida com bens de consumo que não trazem a felicidade e que muitas vezes nos matam com produtos químicos usados na confecção dos alimentos. O Estado e o Capitalismo fazem parcerias com movimentos sociais para ganhar sua força para seu lado, para o lado dos capitalistas, industriais e agressores, e fazem negociar nossos direitos flexibilizando nossas pautas. Atualmente com o processo de globalização, os países de terceiro mundo vêm aumentada a pobreza, e quem mais sofrem são as mulheres. A pobreza leva ao incremento da prostituição e da exposição dos filhos das mulheres ao uso de drogas e ao abandono à violência das ruas. Como o racismo veio da colonização que sofremos, negras e negros são os mais atingidos pelas políticas do chamado neoliberalismo, que vêm implantando a flexibilização das leis trabalhistas em nossos países de forma a disponibilizar mão-de-obra barata para países ricos/imperialistas e para gerar os contigentes de prostituição para o tráfico internacional.

A situação não dá indícios de estar melhorando, com desempregos todo dia e crises no 'mercado financeiro', este que agora determina nossas vidas aumentando o preço dos alimentos ou nos distraindo da dor e injustiça com bens de consumo supérfluos que se tornam acessíveis. Podemos estar confortáveis até a hora em que os impactos das políticas do patriarcado-capitalismo hegemônico chegarem até nós, mulheres, nossos familiares, filhas e filhos, companheiros/as e pessoas que amamos.

Defendemos, portanto, um Feminismo aliado às lutas populares, autônomo, combativo, radical, revolucionário e independente de bandeiras partidárias.

Mulheres venham para a luta!!

MITOS E FATOS

“Feminismo é o contrário de machismo”

MITO! Machismo é a idéia da superioridade dos homens, que se expressa na sua maior valorização social. Homens ocupam mais cargos de decisão, recebem salários maiores, são donos da maior parte das terras e riquezas mundiais. Mulheres são vistas como incapazes para certos empregos, seu trabalho é visto como complementar, mal-remunerado e seu lugar como sendo o da casa. Também são machistas as violências cometidas por homens contra as mulheres (estupros, espancamentos, agressões verbais e psicológicas, depreciação de suas capacidades e de sua vida: 'não cozinha bem, não faz nada direito, não é sexualmente atraente, está gorda'... que são formas de controle), atitudes de limitação de sua autonomia e capacidade, a presunção de que não sabem cuidar de si mesmas e precisam da proteção e apoio de um homem financeiramente, moralmente ou administrativamente. Geralmente dizer que feminismo é contrário de machismo é uma forma de inibir mulheres de assumir essa luta. O feminismo luta para que mulheres e homens sejam reconhecidos como Seres Humanos com mesmas possibilidades de desenvolvimento.

“ Feminismo é a luta histórica das mulheres por libertação!”

VERDADE! Essa liberação diz respeito a buscar uma nova identidade para as mulheres, ou seja, algo diferente do que estamos vivendo hoje, assim como uma nova forma de sociedade e de relações pautadas em novos valores. As feministas lutam pelo fim das violências contra mulheres e as lógicas de poder desiguais que o permitem, por uma sexualidade livre, conhecendo nossos corpos, o que nos dá prazer, acabando com a repressão sexual e a dupla moral que apenas permite o gozo sexual aos homens e pela liberdade de escolher nossa parceria amorosa, pela auto-aceitação, de nossos corpos e pessoas como realmente são, pela inserção das mulheres nos campos de trabalho que não os tradicionalmente femininos e por remuneração justa, pelo fim da dupla-jornada de trabalho que sobrecarrega mulheres nos trabalhos domésticos e os de ‘fora’, pelo resgate da cultura de mulheres, pela produção e expressão de nossos pensamentos nos campos das idéias e ciências, pela visibilidade lésbica que pôe em cheque a noção de que a heterosexualidade é uma premissa universal, pela saúde integral de mulheres e pela proteção do meio ambiente.

“Feministas são lésbicas recalcadas e mal amadas!”

Essa acusação é lesbofóbica e sexista. A lesbianidade aqui é definida como negativa, e é usada a estigmatização social relacionada a ela para inibir a adesão de mulheres ao feminismo assim como aos relacionamentos não-heterosexuais, e como forma de vigiar e reprimir seus movimentos e comportamentos, já que, na história, sempre que uma mulher expressou mais autonomia, vontade de crescer, estudar, ser ativa e participar da vida social, eram chamadas de 'feministas!' ou algo como 'transgressoras', 'subversivas' e... 'lésbicas'. Essa proximidade entre lesbianas e feministas se deve ao fato de que, ao longo da história, lésbicas também foram mulheres que não se conformaram aos ditames sociais e lutaram pela sua liberdade, assim como pelo fato de que o lesbianismo sempre foi visto como um perigo à ordem machista-patriarcal por representar a visibilidade de uma vida fora do contrato de submissão sexual e de trabalho doméstico com um homem.

Como nossa sociedade pune muitas vezes com morte essa escolha por mulheres e por uma vida fora do esperado para estas, chamar mulheres almejando liberdade de lésbicas é ao mesmo tempo, uma forma de tornar arriscadas suas opções políticas e contê-la, assim como também esconder a possibilidade do amor entre mulheres em sua potência revolucionária. Mulheres são ensinadas para agradar e quando expressamos nossos desejos de maior afirmação humana, nos induzem culpa por gerar 'tanto barulho e desconforto'.

O que é ser feminista então? Eu sou uma feminista?

Ser tornar feminista é conseguir se indignar com as questões expostas, de violência, falta de acesso à condições iguais de trabalho, morte, exposição de mulheres na prostituição, falta de autonomia reprodutiva nas decisões sobre seu corpo (se quero ser mãe ou não, se precisar realizar aborto estarei sem amparo e segurança legal), a invisibilidade do trabalho doméstico, a objetificação das mulheres nas mídias, a divulgação da violência sexual na pornografia, o controle que exercem sobre nosso corpo (padrões de beleza, uso obrigatório de cosméticos, demonização do aborto). Será que as feministas são ressentidas? Se é legítimo se ressentir da injustiça? Ou será que são simplesmente solidárias a todos os problemas que as mulheres sofrem? Será que para lutar por respeito e dignidade para as mulheres é ser mal-amada, ou passamos a questionar qual é o amor dos homens que nos matam, vendem e mutilam com seus padrões de beleza e definições do que é ser mulher?

(Por Coletivo de Ação Feminista. Contato: acaofeminista@gmail.com - http://acaofeminista.blogspot.com )

sábado, 20 de março de 2010

IV Picnic Intervenção





dia 21/03/2010 - DOMINGO
às 15h
No Gramado em frente ao prédio das Varas de Família. Rua Cândido de Abreu, 830
com: Comida vegana, zines, material para escambo e doação, música livre e debate sobre Trabalho, Opressão e Resistência.

Traga sua caneca e suas experiências!




- leia mais sobre a proposta do evento aqui